Psicologia hospitalar: como fazer o atendimento em 5 passos?

Independentemente da área do hospital que você estiver atuando, tem 5 passos fundamentais que você precisa seguir para realizar um bom atendimento.

São eles:

  1. Identificar os objetivos da avaliação do modo mais claro e realista possível;
  2. Construir uma hipótese preliminar e planejar a entrevista;
  3. Realizar a entrevista e observação do paciente
  4. Refletir sobre os dados coletados, interpretar as informações com vistas à compreensão do fenômeno psíquico
  5. Dar uma devolutiva ao paciente, ao solicitante e restante da equipe
  1. Identificar os objetivos da avaliação do modo mais claro e realista possível

Um objetivo central do atendimento psicológico hospitalar é avaliar o modo de enfrentamento do paciente diante do adoecimento e hospitalização. Quais são as principais dificuldades que o paciente vivencia? Quais os principais recursos que o paciente utiliza para lidar com o que está acontecendo?

Na prática, o psicólogo recebe uma série de pedidos da equipe com outros objetivos mais específicos que precisam ser compreendidos antes do atendimento.

Para isso:

  • Busque informações pessoalmente com a equipe multiprofissional. Pergunte sobre as impressões que os profissionais têm sobre o paciente e como eles imaginam que a Psicologia pode auxiliar no caso.
  • Faça a leitura do prontuário. Ali estão resumidas as principais informações sobre o quadro clínico do paciente, do tratamento e do prognóstico.

Porque é importante ter essas informações?

  • Para compreender melhor o contexto que o paciente está vivenciando. Será que a doença é grave? Tem risco de morte? O tratamento tem chance de cura ou é paliativo?
  • Para avaliar o nível de compreensão do paciente acerca das informações recebidas e para avaliar se as reações emocionais estão baseadas em dados de realidade ou de fantasias e crenças.

2. Construir uma hipótese preliminar e planejar a entrevista

A hipótese preliminar é o que vai nortear o atendimento.

Como assim? 

  • A hipótese preliminar auxilia a identificação das possíveis demandas psicológicas, a construção do roteiro de avaliação e condução da entrevista com foco no objetivo.

Por ex. A tristeza é um sentimento esperado e, portanto, o humor do paciente está condizente com a situação, ou existe algum outro aspecto da personalidade ou da situação que não foi informado, e que contribui para esta tristeza.

Nesse exemplo, você deve avaliar tanto o contexto, quanto o histórico de saúde mental e a presença de extressores extrahospitalares.

Além de pensar em perguntas de avaliação, você pode se preparar para possíveis intervenções ou encaminhamentos.

Ao construir as hipóteses, é possível começar o atendimento com algumas perguntas e intervenções preparadas para utilizar, conforme seja possível e necessário. 

3. Realizar a entrevista e observação do paciente

Chegou o momento de atender o paciente. É hora de explorar as possibilidades, sem se fechar em uma única hipótese.

Nesse momento, é necessário estabelecer um vínculo de confiança. Apresente o objetivo do atendimento e deixe claro que você pretende conhecê-lo para avaliar o que pode fazer para ajudá-lo nesse momento. 

Comece com perguntas mais abertas, dê espaço para que o paciente se expresse como achar melhor e dê liberdade para ele trazer os conteúdos na ordem que achar melhor.

Enquanto isso, acolha a expressão emocional, escute de forma empática, fique atento a necessidade que está por trás do que é dito.

Confirme o que você entendeu do que foi dito. Não tenha vergonha de dizer que não entendeu alguma parte, ao perguntar você demostrará o seu interesse por ele.

Dê liberdade, mas também ajude o paciente a manter o foco nos pontos que precisam ser avaliados para que, de fato, você consiga verificar como ajudá-lo nesse momento. 

Enquanto faz as perguntas e ouve as respostas, observe as funções psíquicas. Por ex., o paciente está lúcido, orientado, comunicativo? Como está a organização do seu pensamento? A memória está preservada? Sua aparência demonstra que ele tem condições de manter o autocuidado?

Esteja preparado para intervir, conforme necessário.

No hospital, a avaliação e intervenção caminham juntas. O que de mais urgente precisa ser feito? Podemos propor alguma reflexão ou fazer alguma orientação?

Além do paciente, você pode realizar atendimento com familiares. Mas não esqueça que o objetivo principal é ajudar o paciente.

4. Refletir sobre os dados coletados, interpretar as informações com vistas à compreensão do fenômeno psíquico

Esse passo inicia durante o atendimento e continua após a sua realização.

Na medida em que se escuta e observa o paciente, as informações são decodificadas e a condução do restante da entrevista é baseada nisso. Mas a análise das informações também pode e deve ser feita posteriormente.

É o momento em de organizar a resposta em relação a pergunta que motivou o atendimento.

Deve-se refletir e chegar a uma conclusão sobre os principais aspectos que estão interferindo na adaptação e enfrentamento da doença/hospitalização.

Será que são os aspectos da personalidade e do histórico pessoal e familiar? Ou são as características da doença e do tratamento? Ou mesmo da instituição? Ou é o contexto social dele que mais interefere no momento?

Você não precisa chegar a uma conclusão definitiva, mas deve ter uma compreensão ampliada acerca da vivência daquele paciente. 

É necessário identificar o limite entre a reação que é normal e adaptativa e aquela que é patológica para aquele indivíduo. Essa avaliação será necessária para determinar a conduta.

5. Dar uma devolutiva ao paciente, ao solicitante e restante da equipe

​A partir daí, precisamos realizar o último, mas não menos importante passo do atendimento, que é a devolutiva para o paciente, para o solicitante e para a equipe como um todo. 

Você precisa comunicar sua impressão clínica e realizar uma proposta de conduta.

  • Com o paciente, isso pode ser feito no final do atendimento. Dê um retorno sobre sua análise dos principais pontos avaliados e sobre as possibilidades de conduta e encaminhamentos.
  • Dê um feedback para o profissional solicitante.
  • Respeite o sigilo. Socialize apenas as informações relacionadas ao objetivo da avaliação e que sejam úteis para a equipe, no sentido de ampliar a compreensão do paciente e otimizar o tratamento.
  • Valorize o contato pessoal.
  • Mas também realize o registro por escrito no prontuário do paciente. Siga as orientações do Conselho Federal de Psicologia.

Esses são os pontos principais que precisam ser considerados no atendimento psicológico no hospital.

Espero que você tenha gostado.

Se quiser mais detalhes, veja o vídeo no YouTube e se inscreva no site para receber os próximos conteúdos.

Até logo mais.

Um abraço,

​Maria Emília Psi

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Psi. Maria Emília

Psi. Maria Emília

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestalt-terapia pelo Comunidade Gestáltica. Especialista em Saúde pela Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (Alta Complexidade HU/UFSC). Mestrado Profissional pela UFSC. Atua como psicóloga hospitalar e clínica.  Além de professora, preceptora de Residência e supervisora de estagiários e psicólogos já formados.​
Psi. Maria Emília

Psi. Maria Emília

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestalt-terapia pelo Comunidade Gestáltica. Especialista em Saúde pela Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (Alta Complexidade HU/UFSC). Mestrado Profissional pela UFSC. Atua como psicóloga hospitalar e clínica.  Além de professora, preceptora de Residência e supervisora de estagiários e psicólogos já formados.​

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