Você precisa saber:
- Que o caminho da pessoa até ali não foi fácil. Se ela resolveu fazer terapia, é porque ela está em sofrimento, ou no mínimo, com dificuldade em lidar com alguma questão de sua vida. Provavelmente já tentou muita coisa antes, e agora achou que você poderá ajudar. Saber disso ajuda a manter a empatia e a compaixão pelo outro.
- Os primeiros contatos são decisivos em relação ao “se” e ao “como” se dará a terapia. Saber disso ajuda a lembrar de cuidar com a sua postura, com o que vai fazer e dizer. Coerência importa.
- Fazer terapia não é fácil. A resistência e a ambivalência vão aparecer. É difícil abrir mão do lugar que está, mesmo que seja doído, ainda tem algo de conhecido ali. O sofrimento (e o sintoma) tem uma função que precisa ser desvelada. Saber disso ajuda a ter respeito com a dificuldade do outro em se abrir, se expor e se autoresponsabilizar.
Você precisa fazer:
- Defina como você está disponível para fazer o contato e o agendamento da consulta. Telefone? WhatsApp? Redes sociais?
Você está disposto a agendar a pedido de outra pessoa? Como será?
Sua postura/resposta importa. Não tem certo ou errado. Mas eu sugiro que você pense sobre isso antes e saiba que vai precisar manejar as consequências depois.
As expectativas que se criam desde o primeiro momento, precisarão ser abordadas e ajustadas de acordo com a necessidade. Mas lembre-se que a frustração sempre precisa ocorrer em um chão de confiança. - Defina o valor do seu trabalho. Não precisa ser rígido, você pode estar aberto a negociar. Mas é importante ter claro qual o valor mínimo que você pode aceitar para que seja possível dar continuidade ao processo, sem prejuízos, frustrações ou expectativas que comprometam o trabalho futuramente.
- Defina quais horários você tem disponibilidade de atender. Parece óbvio, mas não é. Garanta que seja um horário que você consiga chegar com calma, ser pontual e atender sem pressa. Lembre-se a primeira consulta é a mais imprevisível, é comum precisarmos de um pouco mais de tempo nessa consulta. Se programe e se organize considerando isso.
- Cuide do ambiente. Saiba onde você irá atender e quais são os recursos mínimos que você precisa para a sessão. Tente criar um ambiente agradável, que convide à abertura e à expressão emocional. Chegue antes, ligue o ar-condicionado ou abra as janelas. Sente-se no lugar do cliente. Acostume-se com o espaço. É bom que o ambiente tenha pelo menos um relógio, mas o ideal é que tenha um visível tanto para o terapeuta quanto para o cliente e que esteja visível sem que você precise olhar o seu celular ou o relógio de pulso, pois esses comportamentos podem ser interpretados como uma pressa ou falta de disponibilidade para a escuta. Em relação ao ambiente no atendimento online: organize com o mesmo cuidado que tem com o consultório. Separe um cômodo que permita a privacidade. Cuide da iluminação, teste o áudio e a câmera com antecedência. Lembre-se de orientar a pessoa sobre isso, para que ela também possa se preparar.
- Cuide de você mesma(o). Lembre-se que você é a ferramenta principal do seu trabalho. Tudo que vemos e ouvimos e a forma como interpretamos para por nosso filtro teórico e de vivência. Faça terapia. Cuide da sua aparência, se arrume e deixe transparecer que você se arrumou para um momento importante. É preciso mostrar a pessoa que você se preparou para recebê-la. Mantenha momentos de autocuidado na sua rotina e cuide para garantir a sua disponibilidade emocional para a escuta.
Referência para leitura:
Ênio Brito Pinto. A primeira entrevista (Capítulo 1). Coleção Gestalt Terapia, livro 3: A clínica, a relação terapêutica e o manejo em Gestalt Terapia. Organização Lilian Meyer Frazão, Karina okajima Fukumitsu. São Paulo : Summus, 2015.