Qual o papel do psicólogo na comunicação de más notícias?

É comum que o psicólogo seja convocado em algum momento a atuar diante da comunicação de más notícias. No ambiente hospitalar, as más notícias podem se referir ao diagnóstico de doença grave, transferência para UTI, prognóstico reservado e óbito, por exemplo.

Cabe ressaltar que é a comunicação de diagnósticos ou condutas médicas, assim como a constatação e declaração do óbiro são responsabilidades do profissional médico, mas o psicólogo tem muito a contribuir e colaborar com a equipe multiprofissional ANTES, DURANTE ou DEPOIS da comunicação em si ocorrer.

1. ANTES: A atuação tem o objetivo de dar suporte e orientação à equipe; E/OU iniciar a construção de vínculo com o paciente, avaliar sua compreensão e auxiliar no ajuste de expectativas.

O psicólogo pode se propor a atender o paciente quando o paciente está internado para investigação diagnóstica, com a perspectiva de cuidados paliativos e/ou morte iminente.

Nesses casos é interessante conhecer o paciente previamente; verificar sua comprensão do processo; se já imagina a possibilidade (que a equipe está imaginando) ou não; quais são os recursos que normalmente utiliza para lidar com as dificuldades; qual o seu histórico de saúde mental; e avaliar possíveis fatores de risco e de proteção para enfrentar a má notícia que se seguirá.

Além da avaliação, também deve-se acolher suas reações emocionais, ansiedades, medos, reconhecer possíveis fantasias ou exageros.

Algumas das informações oriundas do atendimento devem ser compartilhadas com a equipe para auxiliar na preparação e planejamento da comunicação.

Em algumas situações, pode ocorrer dos familiares e/ou a equipe se preocupar excessivamente com o possível impacto da má notícia no paciente. Nessas situações, é necessário avaliar os fatores que estão interferindo na tomada de decisão. Pode ser uma tentativa de proteger os pacientes e/ou a si mesmos. Também é necessário avaliar o quanto o paciente deseja saber.

Informações médicas não devem ser limitadas, mesmo que tenham provável efeito negativo sobre o paciente. No entanto, revelar a verdade, sem o cuidado com a maneira como isso é feito ou o compromisso de dar suporte e assistência ao paciente, pode ter um impacto ainda pior do que a omissão dos fatos.

2. DURANTE: A atuação tem o objetivo de acompanhar a comunicação, oferecer apoio ao paciente e facilitar a compreensão das informações.

O bom relacionamento e o vínculo de confiança entre o psicólogo e a equipe médica são essenciais para que esse tipo de intervenção em conjunto seja possível.

Durante a comunicação deve-se ter cuidado com a postura verbal e não verbal. O psicólogo pode ajudar para que a informação seja transmitida de forma clara (usando termos que a pessoa conheça) e específica (com detalhes, na medida em que a pessoa solicita). Além de buscar um ambiente que garanta o máximo de conforto e privacidade possíveis; e utilizar a linguagem corporal (p.ex. gestos, proximidade, toque) de forma a demonstrar atenção e cuidado.

Deve-se avaliar frequentemente a percepção do paciente em relação às informações que está recebendo. Deve-se corrigir confusões para facilitar entendimento do paciente.

O psicólogo pode auxiliar na observação das reações emocionais apresentadas, especialmente quanto à negação da doença ou expectativas não realistas do tratamento. Além de ajudar no acolhimento das diferentes expressões, como silêncio, choro e raiva.

Essa é uma etapa que deve ser, preferencialmente, realizada em conjunto pelo médico e psicólogo, pois é preciso que o paciente esteja minimamente bem emocionalmente para ser capaz de receber as demais informações importantes, como por exemplo: os planos terapêuticos.

3. APÓS: A atuação tem o objetivo de dar suporte psicológico (emocional, cognitivo, prático) ao paciente; verificar o que foi escutado e compreendido e auxiliar no processo de assimilação da informação pelo paciente. Também é possível oferecer apoio à equipe, já que algumas notícias são realmente muito difíceis de dar.


Ofício do CFP sobre o papel do psicólogo na comunicação dos óbitos durante a pandemia:

https://site.cfp.org.br/cfp-publica-recomendacoes-sobre-comunicacoes-de-obito-por-psicologasos/

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Psi. Maria Emília

Psi. Maria Emília

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestalt-terapia pelo Comunidade Gestáltica. Especialista em Saúde pela Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (Alta Complexidade HU/UFSC). Mestrado Profissional pela UFSC. Atua como psicóloga hospitalar e clínica.  Além de professora, preceptora de Residência e supervisora de estagiários e psicólogos já formados.​
Psi. Maria Emília

Psi. Maria Emília

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestalt-terapia pelo Comunidade Gestáltica. Especialista em Saúde pela Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (Alta Complexidade HU/UFSC). Mestrado Profissional pela UFSC. Atua como psicóloga hospitalar e clínica.  Além de professora, preceptora de Residência e supervisora de estagiários e psicólogos já formados.​

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