O que fazer quando o PSICÓLOGO adoece?

A Psicologia enquanto profissão busca ajudar os outros a se sentirem bem. Dizem que nós somos o instrumento do nosso trabalho. São nossas vivências que nos constroem enquanto psicoterapeutas e não somente as vivências teóricas e técnicas, mas também as nossas vivências relacionais.

Não é a toa que sugerem que o psicólogo deve fazer muita terapia. Deve-se buscar o autoconhecimento. É importante ser capaz de identificar seus valores, seus medos, seus limites, seus pontos-cegos e também sua potência, suas habilidades, suas facilidades.

Ter clareza de que pontos são importantes para você e diferenciar daquilo que é importante para o seu cliente/paciente é essencial. Claro que temos necessidades universais, semelhantes, mas somos também muito diferentes e o que precisamos para suprir essas necessidades é muito variado.

Precisamos saber reconhecer quando não estamos bem e quando o que estamos sentindo está atrapalhando/limitando a nossa escuta, percepção e compreensão do outro.

Na população geral, é comum ir ao médico e receber um atestado para se afastar do trabalho quando não está se sentindo bem de saúde. O atestado serve para garantir o período de repouso necessário para que a pessoa se recupere.

Mas tem duas coisas que atrapalham o psicólogo nisso:

1- Muitos são autônomos. Então não tem um chefe para quem mostrar o atestado e dizer para nós que está tudo bem não irmos trabalhar. O nosso compromisso é direto com os pacientes e com nós mesmos.

Não é o atestado que nos garante algum direito de ficar doentes. É a nossa humanidade. Independentemente de termos alguém para mostrar o atestado, ficamos doentes, sofremos imprevistos. Isso faz parte da vida. Precisamos aceitar e lidar com isso.

2- Somos acostumados a cuidar dos outros, a ficarmos disponíveis para ajudar, e isso aumenta nosso sentimento de onipotência e de que é nosso dever estar sempre pronto e disponível para ajudar.

Especialmente no início da carreira, é comum ter medo de se afastar, pq o que será dos nossos pacientes sem nossa presença. E se eles não voltarem depois?

Não queremos ficar doentes, achamos as vezes que não podemos, ou – no mínimo – que não devemos. E quando ficamos, tendemos a achar que não estamos mal o suficiente.

Apesar de também trabalhar em hospital, e saber teoricamente que as doenças mandam mensagens que precisamos ouvir para aprender algo importante. Eu sou teimosa e não quero ter que passar por isso. Cuido muito da minha saúde para não passar por isso.

E ainda assim, também passo. Não consigo evitar sempre. Minha humanidade fala mais alto. Sou vulnerável, frágil muitas vezes.

Precisamos aceitar e valorizar nossa vulnerabilidade.

É nossa vulnerabilidade que nos fortalece. Quando esquecemos e ou tentamos negar a vulnerabilidade, nos desgastamos e enfraquecemos.

Quero que vocês se lembrem que as vezes não vão estar bem e isso vai prejudicar o trabalho de vocês. Vocês vão precisar reconhecer isso, respeitar, e realmente deixar de trabalhar em alguns dias para cuidar de vocês.

Não sei vocês, mas eu sempre considerei as faltas dos clientes por motivo de doença justificáveis para que a consulta não fosse cobrada. Sempre entendi que em situações de doença, o tempo de recuperação é super importante e que remanejar o horário, fazer reposição ou simplesmente cancelar a consulta, pode ser importante.

Conclusão:

Nosso trabalho não pode ser um fardo, não pode ser um obstáculo que prejudique o nosso autocuidado. Precisamos nos cuidar, nos respeitar, reconhecer quando realmente precisamos repousar.

Somos exemplo, não de onipotência, mas sim de autoconhecimento e autocuidado. Isso não significa que vamos ser capazes de estar super bem o tempo inteiro, mas sim de que vamos saber aceitar quando não estivermos bem e vamos buscar o que precisamos para nos sentirmos melhor.

Ainda que, as vezes, o que precisamos seja apenas dar tempo ao tempo para que o nosso corpo se encarregue de reencontrar seu equilíbrio.

COMPARTILHE

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on email
Psi. Maria Emília

Psi. Maria Emília

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestalt-terapia pelo Comunidade Gestáltica. Especialista em Saúde pela Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (Alta Complexidade HU/UFSC). Mestrado Profissional pela UFSC. Atua como psicóloga hospitalar e clínica.  Além de professora, preceptora de Residência e supervisora de estagiários e psicólogos já formados.​
Psi. Maria Emília

Psi. Maria Emília

Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestalt-terapia pelo Comunidade Gestáltica. Especialista em Saúde pela Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (Alta Complexidade HU/UFSC). Mestrado Profissional pela UFSC. Atua como psicóloga hospitalar e clínica.  Além de professora, preceptora de Residência e supervisora de estagiários e psicólogos já formados.​

INSCREVA-SE

Cadastre-se gratuitamente para receber um aviso sempre que eu postar um novo vídeo no Youtube :)

COMPARTILHE

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on email